Há tempos o Funk invadiu as classes mais altas da sociedade carioca. Mesmo presente nos outros estados e com algum reconhecimento mundial, o movimento não é tão forte quanto no Rio de Janeiro. Enquanto os clubes vão falindo e as UPPs inibindo o movimento, os MCs tocam nos principais eventos e casas de shows da cidade. Com o “Tum tá tum, tum tá” substituído pelo “Tchun tchá, tchá gundum gundum gundum dá”, qualquer fachada recém pintada por qualquer projeto de desenvolvimento social, ilustrado por uma ONG, perde o destaque para o batidão, que faz a maioria das pessoas subir em qualquer lugar.
Acho ter sido Raul Seixas o primeiro artista de outro segmento a associar – se ao estilo, quando no começo dos anos 90 lançou com DJ Malboro uma versão de “Rock das Aranhas”. O Funk não era o de James Brown (e o baião de Raul também não era o de Luís Gonzaga), mas de certa forma reverenciava a cultura da cidade que um dia acolheu um artista pobre, vindo da região nordeste e que queria ser americano como Elvis Presley ou Bob Dylan. No entanto lembro-me de uma gravação do “Baú do Raul” na fundição progresso, onde roqueiros, hippies e chatos vaiaram a DJ Vivi Seixas, filha de Raul Seixas. A moça ousava nas mixagens funk quando sua mãe, Kika Seixas, idealizadora do evento, intercedeu com algo como: “Não façam isso. O próprio Raul foi um dos primeiros a trabalhar com o funk no Brasil”. Alguém tem dúvida de que o “Rock das Aranhas” e seu teor literário poderia ser perfeitamente um sucesso do Mr. Catra? Viva Lulu Santos.
Uma situação muito parecida acontece com o samba. Durante a maior parte do ano a geração “Sou do samba” não troca a Lapa ou a universidade pelas comunidades, mas no verão é nas quadras das escolas de samba que está a graça. Não precisa ser a escola de coração, apenas basta que aja batucada e celebridades polêmicas fotografadas ao lado de pessoas loiras. Já no baile funk, quanto mais traficantes o jogador de futebol conhecer, melhor para o baile e para a torcida.
Hoje, tanto o Samba quando o Funk abrange em sua maioria, gente jovem, bonita e com algum dinheiro, mas não recebem o rótulo “Universitário”. Se seu avô, por exemplo, te ajudou no cursinho pré – vestibular, paga as suas mensalidades ou simplesmente acredita que universidade é coisa séria, ele vai repensar ao ler por aí “Pagodão Universitário” ou “Funk Universitário”. Isso só não vai acontecer com o “Sertanejo Universitário”, porque a sua avó acha o Luan Santana bonito.
A maior vantagem que o samba tem sobre o funk é que Marcelo D2 arrombou as portas quando falou de bairros como Madureira, São Cristóvão, Oswaldo Cruz, e trabalhou com nomes como João Donato, Zeca pagodinho e Arlindo Cruz. Assim despertou-se certo interesse dos jovens para o samba e para estes artistas (não para estes bairros). Obrigado D2.
Em Araruama, estamos feito capital
A Ab Lounge promove as quintas feiras o “baile” com Andrézinho (Ex Molejo) da Mocidade e convidados. A abertura, intervalo (cada vez mais raro) e final do show, ficam por conta do DJ Leo Machado, que encerra a noite com Funk. O sambista não vem mais com o seu grupo oficial e é acompanhado pelo “Nóis na Fita”. Andrézinho, em apresentações mais curtas, canta um pedaço da letra, deixa o refrão com a platéia e vai pra galera.
Ainda na trilha desse samba de bamba e também na Gigi, o grupo “Sambará” lotou o “Cabana Brasil”, no primeiro dia de agosto. Era domingo, dia de Flamengo x Vasco no telão. Os organizadores Eduardo Leão e Walin arrendaram a casa do empresário Chaves. Gente bonita, com cheiro de cerveja e sem cara de domingo.
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